quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Lorde Inglês







Mnemosine insiste em despertar minhas lembranças que vagueiam como sonhos, ora bem claros e quase reais, ora distantes e envoltos na mais cinza bruma. Embora, muitas vezes se revelem em noites de pesadelos... Mais, o que quero mesmo é falar de uma das mais belas e queridas lembranças que carrego da infância, trata-se de uma pessoa muito especial que tive o privilégio de conviver, ainda por cima, ser esta mesma pessoa meu tio. Antônio! este era o seu nome. Um autêntico "Lorde Inglês" sim! eu explico! isso se deve ao fato de lembrar dele com um belo porte altivo e certo ar nobre que caminhava lado a lado, com sua simplicidade e humildade que lhe era peculiar. Tinha maneiras finas e educadas,Fruto da rígida educação que as famílias mais abastadas cultivavam em sua época.Gostava de se vestir com um magnífico terno de linho branco que o tornava mais leve e bonito em sua pele clara, seus cabelos brancos e belos olhos castanhos, pequenos, levemente puxados que lhe dava um ar meio exótico.Eu, menina que era na época, gostava de ficar a janela no final de tarde a esperá-lo, de lá, podia acompanhar com os olhos ansiosos seu retorno para casa após o trabalho, quando discernia seu vulto na esquina com passos lentos e cadenciados,sem nunca deixar de trazer o saboroso e esperado pacote de pão no braço (naquele época enrolava-se em uma folha de papel dobrando as pontas em um pacote) que comprava na padaria "Flor das Neves"(ainda hoje existe) na outra mão, transportava uma pequena pasta com papéis do seu trabalho. Aquela súbita visão, fazia meu coração disparar de alegria na qual sua presença era sempre motivo de festas e mimos.Naquelas noites quentes de verão, ele ficava um bom tempo de bruços no pequeno portão de casa a me contar suas histórias de menino e notadamente de sua juventude, com seus pais e irmãos. Eu gostava especialmente que me falasse do meu pai e dos meus avós, que não cheguei a conhecer, ou das vezes que me levava a longos passeios a pé, pelas ruas e avenidas de uma cidade ainda com belos casarões antigos, a me encantar com os verdes e saborosos pés de jambos, ao longo das praças. Muitas vezes insistia em parar para vê-los, o que o impacientava e queria apertar os passos, outras vezes, era ele que encontrava um amigo, a quem cumprimentava e quase sempre havia uma pequena prosa, nestas, eu é que ficava impaciente para retornar a caminhada.
Hoje, vez por outra volto àquela rua, até entro naquela padaria para reviver e matar um pouco a saudade, outro dia, até fiz aquele tão conhecido caminho, mas, em cada passo que dava, meu coração batia mais forte, fechei os olhos e por segundos me vi pequenina com um vestidinho verde franzido na cintura e magas bufantes, arrematados com um belo bico bordado, costurado por minha mãe, especialmente para ir passar as férias na capital, (João Pessoa). Lá, na esquina do tempo...Eu caminhava de mãos dadas com aquele que tinha olhos de bondade e o coração leve como o beija-flor.

Ana coeli

(Ofereço este post em homenagem ao meu amado tio Antônio pelos belos dias de primavera da minha infância e pelo grande homem que soube ser.)









terça-feira, 12 de abril de 2011

Longa Estrada






Longa é a estrada da vida
Caminhos...
Retas paralelas que me conduzem ao infinito
Ora estreitos e sinuosos
Pedras, curvas, espaços vazios
Buracos negros...
Pontes que me arremessam a outra margem
Montanhas a escalar
Ladeiras a despencar
Setas a seguir em frente...
Sinais que me acordam os sentidos
Pare, Olhe , Escute.

Ana Coeli






























quarta-feira, 6 de abril de 2011

Luzes de Outono





Mais uma vez, ela corre para a janela em silêncio, olha o sol que estende seus últimos raios de tons avermelhados a se despedir de mais um dia de fim de verão e Outono que já se evidencia com suas luzes e matizes únicos da estação, bem próximo do equinócio quando seu dia e noite quase já se igualam, contribuindo para que toda a natureza em seu grandioso mistério se prepare para frutificar.
De repente, há um surdo e inquietante movimento, tudo a volta parece vibrar, pássaros apressados voam em busca dos seus ninhos e rotas.
As cigarras acordam de seu longo sono subterrâneo para em uníssono cantar em seu misterioso e sonoro canto da terra, seres da noite esperam os últimos raios e abrem suas asas em voos frenéticos na tarde morna de Outono.
Quando o lusco-fusco enfim toma conta do espaço, há um breve e melancólico silêncio, momento solene, hora sagrada, hora do Anjo... da Ave Maria...
Quando mais uma vez seus olhos fitam o horizonte, vê no céu o radiante brilho da estrela Dalva e com ela o manto negro da noite bordado de estrelas... A noite subitamente se fez.

Ana Coeli