quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Janelas da vida...Janelas da alma

Casarão de Olinda( Foto 10/8/11)
Manhã de sol e ventania, abro as janelas para festejar o astro rei que ha tempo não aparecia. As janelas fazem parte das manhãs, assim como o nascer do sol. Gosto de casas com janelas, muitas janelas, elas me comovem e me fascinam, pois é através delas que vemos o mundo lá fora, é por elas que sentimos e percebemos a promessa de renovação da vida e a leveza líquida da luz do sol.  O que há por trás delas? Quanta vida e sonhos escondem?  Quantos momentos felizes ou tristes deslizam com o tempo na paisagem de uma janela? Gosto de escancará-las para permitir que o claro do dia ilumine suavemente cada recanto da casa e desfaça as brumas da noite. É por elas que aspiramos o suave perfume das flores, sentimos o cheiro da terra, das telhas úmidas do orvalho das manhãs. Ouvi dizer que os olhos são as janelas da alma e certamente as janelas são a alma das casas. Elas constituem um portal para o mundo exterior, para outro lado, o além de nossas vidas em quatro paredes, uma verdadeira ponte, um chamado para vida que palpita em harmonia com leis imutáveis da natureza. Delas podemos enxergar o tempo e a vida caminhando lado a lado,a troca gasosa da clorofila, os pássaros, por vezes até, as pessoas que passam ao longo da rua. É por elas que divisamos montanhas, vales e horizontes, fora e muitas vezes  dentro de  nós mesmos.
 Na memória das janelas há olhares, paixões, segredos antigos, e o mais importante, a espera, ou um adeus de alguém que passa... Há grande magia ao olharmos uma janela iluminada com cortinas de renda em noites de luar, perfumada com jasmins, cujos galhos insistem em bater com o vento em sua vidraça, despertando singelos e mágicos sonhos.
As janelas das casas permitem que ao debruçarmos sobre elas, olhemos para o céu e deslumbremos em noites de estrelas, as janelas de nossa alma...
Ana Coeli













domingo, 6 de novembro de 2011

Eu lembro...



 Chagall, (La vie paysanne)
Eu lembro...
De acordar com o sol 
De um mundo de girassóis
Do verde olhar dos imensos campos de sisal e o lamento triste do motor
Das águas límpidas dos milenares tanques de pedra, o cinza dormente dos galhos na seca
 O branco dos varais esterilizados pelo sol e o azul, azul profundo da pedra de anil
Do burrinho de olhos tão meigos
Cargas d' água, potes de barro
Redemoinho de terra... Medo do saci- pererê!
No silêncio inquietante da tarde, bate pilão, cheiro de café
Eu, menina, sentada na janela, escutava a vida passar... O amolador de tesoura girou a roda do tempo.
Ana Coeli

sábado, 29 de outubro de 2011

Contemplação



O sol se derrama em raios dourados
Tarde morna, vento sopra de mansinho
Gatos relaxados dormem, dormem..
Pássaros silenciam
Por instantes, nada se move na natureza
Cores de Paul Klee!
Há silêncio... Contemplação

Ana Coeli
Paul Klee,Red Ballon, 1922.



quarta-feira, 12 de outubro de 2011

De um Mundo Encantado




Anita Garibaldi...  lindo e pomposo nome nos faz lembrar a grande heroína que foi para guerra e lutou bravamente em companhia do seu amado Garibaldi.
Mas a Anita Garibaldi que conheço, enfrenta a grande batalha de ganhar a vida com seu oficio e certamente é tão heroína quanto sua xará. Ela tem um jeito maroto e olhos de gueixa, o que a faz ser dona de uma beleza quase exótica e  singular, carrega consigo uma alegria e um belo sorriso estampado no rosto. Anita tem um dom; que já há muito se perdeu em nossos dias modernos, ela faz bonecas! Não aquelas bonecas falantes, robotizadas, ou pequenas miniaturas de uma sociedade consumista e descartável. As mãos de Anita parecem carregar o mágico pó-de-pirlimpimpim que a faz  transformar pequenos retalhos coloridos em lindas e misteriosas bonecas  com dedinhos e sapatinhos vermelhos. Sem falar dos  Palhaços de nariz pontudo ou de olhar tão triste que os nossos por breves instantes acabam virando lagos. Impossível não se encantar com as maravilhosas bruxas de belos vestidos de tule, seda, renda, veludo e olhinhos puxados carregados de segredos. Ela cria os mais variados personagens, eles parecem sair de um romance celta ou contos de fadas com casinha na floresta de majestosos carvalhos, onde uma  menina de capa vermelha busca ser salva por seres luminosos.
Anita é uma artista genial; e como tal, faz arte. Seu trabalho tem alma, requinte, delicadeza que leva ao deleite nosso olhar para um mundo de sonho e magia
Era uma vez...
Ana Coeli
Homenagem ao dia das crianças




terça-feira, 20 de setembro de 2011

Eram mais que irmãs...


Eram mais que irmãs... Eram gêmeas. Lado a lado, retas paralelas se espelhavam dia e noite. Pareciam buscar nas alturas tocar o céu,s
ímbolo da engenharia, bela e moderna arquitetura. Numa ensolarada manhã de primavera, surgiu no céu um gigante pássaro de ferro com asas de fogo, num lapso olhar, imágens de horror surreal, instantes depois o pó cinza da destruição se fez diante dos olhos que não queriam acreditar, gravando na memória do tempo, o surdo e comovente eco das vozes dos que se foram. Hoje, em seu lugar há um imenso buraco quadrado, como a alertar para os quatro cantos da terra, onde nem a água que a tudo toma forma e completa, nunca haverá de preencher. A lembrança das grandiosas e belas torres, se irmanam na saudade de cada nome gravado na fria pedra silenciosa. Elas já não existem, mas continuarão gêmeas para sempre em nossa memória, na dor e no estranho vazio que ficou no coração dos homens.
Uma singela homenágem aos que se foram...

Ana Coeli













quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Vento de Agosto


Sopra vento, sopra vento!

Vento do mês de Agosto

Leva pra longe, muito longe meu desgosto...

Ó vento dos confins do mundo!

Tens o eco das montanhas

À noite bates surdo nas janelas

Açoitas meus segredos distantes
Arrastas o pó dos séculos e jogas por terra os sonhos dos homens...
Sopra vento, sopra vento...
.Claude Monet (Mulher com sombrinha-1875)
Ana Coeli

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Solidão

Seu olhar se perde na paisagem deserta
Tão triste, tão cinza
Tão ela mesma...
Há um inquietante silêncio na natureza
Os dias passam, passam...
Seu velho relógio marca o compasso da vida.
Em sua letargia
Gira a ampulheta do tempo
Se desfaz em sua areia...
No hiato do tempo
Mora a solidão
Ana Coeli
Autômata (Obra Realista, Ewduard Hopper,1927)