segunda-feira, 9 de abril de 2012

Era outra vez

Young Girl in the Garden at Mezy - Pierre-Auguste Renoir
Young Girl in the Garden (Pierre Auguste Renoir)


Era outra vez
da casa: fogão de lenha
- conversas sem fim -
raios de sol: caminhos úmidos de orvalho
pastos de clorofila
atrás dos campos: bosques em círculos
depois: o doce riacho
umbuzeiro: sombra de mel
pássaros: canários curiós rolinha galo de campina
sinfonia no alto das árvores
ventania: Ò brisa de março!
tarde: a terra cora
longe: o sino da igrejinha
-tão longe-
de tão longe tocava
chamava hora do anjo
noite: frio cortante
rufar do cata-vento
céu: manto negro bordado de estrelas
 eu: menina, fechava os olhos com asas no pensamento
silêncio: era outra vez de tão longa saudade...
Ana Coeli

quarta-feira, 14 de março de 2012

Desilusão

A Persistência da Memória
A Persistência da Memória (Salvador Dali)
Não te enganes, tua dor é só tua
Tua solidão está  impregnada em ti
Não atires palavras ao vento
Ninguém te ouvirá!
Suportas dignamente a crueldade flagrante
Pois quando libertares tua alma
Serás apenas uma vaga lembrança ou uma foto esquecida no canto da sala, numa visão desolada, de uma decoração brega.
Ana coeli

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Encantamentos


Imensidão zul
Humildemente toca meus pés
Barquinho solitário pleno de mar
Pensamentos navegam no ar...Amar!

Ana Coeli

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Yesterday

Viro a página da vida
 Sopro o pó do tempo capturado pela luz
The Long And Winding Road
Classe de meninas, a bela farda azul, sapatinho de boneca
Das nossas conversas e o olhar severo da madre superiora
Corredores compridos; a capela, a gruta secreta, não rezava...
Nossos sonhos brilhavam com a força das estrelas
Naquele mundo, cabiam todas as cores do arco-íris 
 Pisávamos em Strawberry Fields Forever
Os colares de Romeu e Julieta, as flores do jasmim se entrelaçavam e inspiravam nossas paixões juvenis
Don´t Let Me Dawn era nosso hino em momentos de dor e dançávamos ao som de Twist And Shout
Das janelas centenárias, meu olhar se perdia Across The Universe...Yesterday
Ana Coeli

Strawbery Field Forever,Don´t Let Me Down, The Long and Winding Road, Across the Universe. Composição: Lennon/McCartney.
Yesterday. Composição: Paul McCartney
Twist And Shout. Composição: Phil Medley/Bert Russel


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Esquina


      Marc Chagal,La Danse (óleo sobre tela,1950)
Nas ruas estreitas andava distraída
Chutava pedrinhas para espantar as lembranças
Sua dor física se confundia com a da alma
O sol teimava em se esconder por trás das nuvens
Das úmidas telhas, o olhar fixo do gato espreitava sua alma
Na esquina diagonal, o bode tocava violino...
Ana Coeli

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Janelas da vida...Janelas da alma

Casarão de Olinda( Foto 10/8/11)
Manhã de sol e ventania, abro as janelas para festejar o astro rei que ha tempo não aparecia. As janelas fazem parte das manhãs, assim como o nascer do sol. Gosto de casas com janelas, muitas janelas, elas me comovem e me fascinam, pois é através delas que vemos o mundo lá fora, é por elas que sentimos e percebemos a promessa de renovação da vida e a leveza líquida da luz do sol.  O que há por trás delas? Quanta vida e sonhos escondem?  Quantos momentos felizes ou tristes deslizam com o tempo na paisagem de uma janela? Gosto de escancará-las para permitir que o claro do dia ilumine suavemente cada recanto da casa e desfaça as brumas da noite. É por elas que aspiramos o suave perfume das flores, sentimos o cheiro da terra, das telhas úmidas do orvalho das manhãs. Ouvi dizer que os olhos são as janelas da alma e certamente as janelas são a alma das casas. Elas constituem um portal para o mundo exterior, para outro lado, o além de nossas vidas em quatro paredes, uma verdadeira ponte, um chamado para vida que palpita em harmonia com leis imutáveis da natureza. Delas podemos enxergar o tempo e a vida caminhando lado a lado,a troca gasosa da clorofila, os pássaros, por vezes até, as pessoas que passam ao longo da rua. É por elas que divisamos montanhas, vales e horizontes, fora e muitas vezes  dentro de  nós mesmos.
 Na memória das janelas há olhares, paixões, segredos antigos, e o mais importante, a espera, ou um adeus de alguém que passa... Há grande magia ao olharmos uma janela iluminada com cortinas de renda em noites de luar, perfumada com jasmins, cujos galhos insistem em bater com o vento em sua vidraça, despertando singelos e mágicos sonhos.
As janelas das casas permitem que ao debruçarmos sobre elas, olhemos para o céu e deslumbremos em noites de estrelas, as janelas de nossa alma...
Ana Coeli













domingo, 6 de novembro de 2011

Eu lembro...



 Chagall, (La vie paysanne)
Eu lembro...
De acordar com o sol 
De um mundo de girassóis
Do verde olhar dos imensos campos de sisal e o lamento triste do motor
Das águas límpidas dos milenares tanques de pedra, o cinza dormente dos galhos na seca
 O branco dos varais esterilizados pelo sol e o azul, azul profundo da pedra de anil
Do burrinho de olhos tão meigos
Cargas d' água, potes de barro
Redemoinho de terra... Medo do saci- pererê!
No silêncio inquietante da tarde, bate pilão, cheiro de café
Eu, menina, sentada na janela, escutava a vida passar... O amolador de tesoura girou a roda do tempo.
Ana Coeli